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Sonhos e Visões

Sonhar é preciso, inclusive com o diálogo ecumênico e inter-religioso, entre as Igrejas de tradição cristã e também entre as diferentes expressões religiosas que estão na Pan-Amazônia.

17/03/2020

Texto de autoria do Padre José Arlindo de Nadai
Publicado no jornal Correio Popular, edição do dia 17 de março de 2020

Desde sempre ouvi dizer que é próprio dos jovens sonhar… Meu filho está sonhando! E próprio dos idosos ter visões… Faz parte da idade. De repente, contudo, deparo-me com o texto sagrado da Bíblia, onde leio:
“Derramarei o meu Espírito sobre toda carne, vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos anciãos terão sonhos, vossos jovens terão visões (Joel 3,1)

Curiosamente essa passagem bíblica é retomada pelo apóstolo Pedro por ocasião do Pentecostes, a descida do Espírito Santo sobre a Igreja nascente em Jerusalém, em forma de fogo e de um vento impetuoso. O fogo aquece e faz arder os corações; o vento sopra, dá novo alento, faz mover, desinstala!

Desvendar esta aparente contradição, entre o senso comum e o texto sagrado cabe aos estudiosos da Sagrada Escritura: aos exegetas que se dedicam à sua interpretação.

Dois acontecimentos recentes, ainda em curso, despertaram-me para esse texto do profeta Joel: a convocação do Papa Francisco de jovens do mundo inteiro para que se engajem na luta por uma Economia solidária e justa, de cujos benefícios ninguém seja excluído, e que preserve a integridade da natureza. E também o seu mais recente documento: Querida Amazônia.

Essa convocação tornou-se um movimento: a Economia de Francisco que se reunirá em Assis (Itália) no mês de novembro, com a participação de jovens economistas, empresários, e estudantes de vários países, inclusive do Brasil, com o objetivo de trocar conhecimentos e experiências de projetos de uma economia a serviço e em defesa da humanidade e seu futuro, de forma diferente da economia global dominante.

Foram selecionados cerca de 2 mil jovens para este evento, mediante a apresentação de projetos por eles já implantados com resultados positivos, como exemplo de uma Economia que cresça sem destruir a natureza e sem excluir ninguém, princípios da Economia de Francisco. “Vamos a Assis para lembrar que a Economia vigente não tem resolvido a pobreza no mundo e só faz aumentar a desigualdade social: Vamos conhecer o pensamento e as propostas dos jovens sobre uma nova Economia que faz viver e não mata, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a depreda. Os jovens são capazes de escutar o grito da terra e dos pobres, tem dito o Papa Francisco. Assis de São Francisco é um símbolo de humanismo, fraternidade e de uma cultura de Paz.

Grandes nomes, inclusive prêmios Nobel, já confirmaram presença para participar com os jovens que são os protagonistas do evento.

Em sua Exortação apostólica pós-sinodal chamada Querida Amazônia – o Papa Francisco retoma toda a
temática do Sínodo dos Bispos: Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral- formulando quatro grandes sonhos: um sonho social, um sonho cultural, um sonho ecológico e um sonho eclesial.

Um sonho social de uma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes, para consolidar o “bem-viver”; que lute pelo direito dos mais pobres, dos povos nativos, cuja voz seja escutada e sua dignidade promovida (8). Um sonho cultural de ver uma Amazônia cultivada sem desenraizar, crescer sem enfraquecer sua identidade, promover sem invadir. Respeitar a riqueza cultural onde brilha de maneira variada a beleza humana. (28)

Um sonho ecológico: ao lado da ecologia da natureza, existe uma ecologia humana, que por sua vez requer a ecologia social. Tudo está estruturalmente interligado: a beleza natural, a vida transbordante dos rios e das florestas. (41)
Um sonho eclesial: o Papa Francisco diz sonhar com comunidades cristãs encarnadas, na Amazônia, que dêem à Igreja rostos novos com traços amazônicos. A Igreja é chamada a caminhar com os povos da Amazônia. Dado que são muitos os povos nativos, muitos devem ser também os caminhos pastorais da Igreja na Amazônia. (61) Assim continua em pé a necessidade da diversidade de novos ministérios e a possibilidade de maneiras diversas de se constituírem.

Sonhar é preciso, inclusive com o diálogo ecumênico e inter-religioso, entre as Igrejas de tradição cristã e também entre as diferentes expressões religiosas que estão na Pan-Amazônia.

Diante deste evento em curso, Economia de Francisco e dos “sonhos” sobre a “Querida Amazônia”, parece-me que se cumpre a profecia de Joel, os anciãos terão sonhos e os jovens visões de que um outro mundo é possível e urgente, onde os pobres do mundo possam ter Terra, Teto e Trabalho para o Bem-viver e conviver. Só então justiça e paz se abraçarão.

Pe. José Arlindo de Nadai

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