A CNBB todos os anos convida a Igreja do Brasil para que durante o mês de Setembro se faça uma reflexão mais aprofundada sobre algum livro da Sagrada Escritura. O convite neste ano é feito para aprofundarmos nossa leitura e estudos sobre os capítulos 15, 22 até 18, 27 do livro do Êxodo. Escolhe-se Setembro […]
24/09/2011
A CNBB todos os anos convida a Igreja do Brasil para que durante o mês de Setembro se faça uma reflexão mais aprofundada sobre algum livro da Sagrada Escritura. O convite neste ano é feito para aprofundarmos nossa leitura e estudos sobre os capítulos 15, 22 até 18, 27 do livro do Êxodo. Escolhe-se Setembro por que neste mês celebramos no dia 30 São Jerônimo, teólogo do período Patrístico responsável pela tradução dos textos bíblicos do Grego e Hebraico para a língua Latina. Os cristãos creem que a Bíblia foi escrita por homens sob Inspiração divina. Entretanto, é preciso fazer uma volta ao passado na tentativa de decodificar o sentido da mensagem bíblica e entendê-la em sincronia com seu tempo. Para isso, é preciso tirar nossos “óculos” de hoje, a maneira de ver o mundo de hoje e voltar ao passado, colocando os “óculos” do tempo em que foi escrito o texto bíblico. Nesse sentido, é preciso entender que na Sacra pagina temos ‘estórias’ que nem sempre são Histórias. Ou seja, o autor sagrado se valeu de um recurso literário simbólico com uma mensagem que nem sempre é fatual. Muitas vezes é preciso ter olhos de poeta para perceber nas entrelinhas do texto a mensagem simbólica codificada por meio de metáforas, produtos de uma tradição cultural de qualquer sociedade de qualquer tempo e lugar. Por ser obra humana os autores da Bíblia tinham plena consciência do que escreviam, bem como tinham a intenção de escrevê-la. Desse modo, a Bíblia pode ser um livro interesseiro, que tem a intenção de conduzir seus leitores a algum lugar e a assumirem alguma atitude. Com isso acima descrito, o leitor pode até pensar: “Então onde entra a Inspiração divina em todos esses textos tão humanos?” Precisamos entender que Deus tem uma lógica totalmente diferente da nossa, Sua revelação não se dá fechada, uniformizada nos padrões humanos, mas plural, diversificada, multiforme e com o auxílio do Homem. Um exemplo claro disso é o seguinte: Se pusermos cem alunos a descrever uma ópera, certamente teremos tantas visões quantos alunos. Todos eles a terão assistido, mas, para descrevê-la cada um o faria a partir do seu ângulo de visão, da sua cultura e, às vezes, a partir de seu temperamento. Assim aconteceu com a Palavra de Deus. Primeiro foi narrada, inspirada e depois escrita. Cada qual, pelo jeito de ser da pessoa, ou do grupo que a escreveu com seus interesses próprios. Na exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, o Papa Bento XVI diz: “Quando esmorece em nós a consciência da inspiração, corre-se o risco de ler a Escritura como objeto de curiosidade histórica e não como obra do Espírito Santo, na qual podemos ouvir a voz do Senhor e conhecer a sua presença na história.” A Palavra do próprio Deus nunca se apresenta na simples literalidade do texto. Para alcançá-la é preciso transcender esta literalidade num processo de decodificação e mergulho no texto bíblico, é preciso transcender a letra e perceber o Espírito vivificador (2Cor3, 6) que perpassa toda a Sagrada Escritura. Esta quando bem entendida leva as pessoas a sair de si mesmas a um comprometimento com o outro e com o Outro nos mais diversos setores da vida. Que sejamos amantes e praticantes da Palavra de Deus que também é palavra dos homens. Pe. Victor Silva Almeida Filho Vigário paroquial da Paróquia Divino Salvador – Campinas
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