Os Segredos da Vida | Pe. Victor

Uma das impressões que colho no dia-a-dia de paróquia é a dificuldade do Homem moderno em lidar com os reveses da vida: frustrações, perdas, perseguições, doenças, morte; enfim, situações que sempre levam as pessoas a uma maior debilidade psicológica, espiritual e emocional. Muitas pessoas acham que o único culpado pelas mazelas da vida é Deus.

Feliz daquele que entende os mistérios do sofrimento, do fracasso, da doença e da morte a partir do prisma de Jesus de Nazaré, como Graça de Deus em nossas vidas. Que sabe passar por todas as intempéries com a serenidade do Divino Salvador.

Manter uma postura cristã perante as provações não é fácil. Porém, ocasiões de adversidades são inerentes ao ser humano, talvez devido à ideologia propagada pela sociedade moderna não tenhamos olhos para perceber tudo o que nos acontece.

Dentro do sistema ideológico da sociedade de nosso tempo não há lugar para perdedores, frustrados e deprimidos. Sucesso custe o que custar. Vencer na vida é a ordem. Felicidade. Prosperidade. Alegria. Beleza. Fortuna. Estes são alguns requisitos propostos pela Sociedade moderna, e quem não os tem está fora do “jogo”. E esta é também a grande falácia da sociedade mercadológica de nosso tempo, pois sempre acabamos nos encontrando com nossa pequenez, nossas fragilidades e limites.

Fatos desagradáveis, a dor e o sofrimento fazem parte de nossa finitude; são parte intrínseca de nossa humanidade e nos proporciona amadurecimento. Nos tempos em que vivemos ditados pela facilidade, bem-estar e comodidade proporcionados pela evolução das tecnologias e pelo consumo, não é fácil lidar com as perdas que a vida nos proporciona.

Acredito que um dos segredos da vida está em encará-la como mistério que cada dia Deus vai nos desvelando. É ilusão achar que temos o controle das situações da nossa vida. Quando algum fato inesperado acontece, percebemos o quanto somos frágeis e impotentes perante os grandes mistérios que a vida nos oferece.

Acredito que um dos segredos da vida está em encará-la com um referencial transcendental, através de uma dimensão pascal; isto é, como passagem, como caminho a ser percorrido. Quando começamos a enfrentar a vida como transitoriedade ela passa a ser vivida com outro ponto de referência. Me aceito como criatura e não como Criador. Aceito as intempéries da vida: a fragilidade, a fugacidade, a limitação, a doença e a morte como componentes inerentes ao ser humano.

Portanto, tenhamos em mente também que o maior vencedor da humanidade passou pela mais humilhante morte de cruz; da aparente derrota e fracasso da Cruz se esconde a vitória do Ressuscitado. É o horripilante da Cruz que revela a beleza da vida.

Pe. Victor Silva Almeida Filho

Vigário paroquial da Paróquia Divino Salvador