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Orientações da Arquidiocese de Campinas sobre as Eleições de 2020

Eleições 2020: ORIENTAÇÕES AOS PRESBÍTEROS, DIÁCONOS, RELIGIOSOS (AS) E A TODO POVO DE DEUS

2/11/2020

 

Temos diante dos nossos olhos o processo eleitoral de 2020, no qual iremos eleger, nas nossas cidades, as pessoas que irão ocupar a chefia do Poder Executivo (prefeituras) e tomar assento no Poder Legislativo (câmaras municipais). Neste ano, especialmente, o pleito eleitoral reveste-se do drama de saúde que ainda nos assola – a pandemia da covid-19, que já vitimou mais de 130 mil irmãos e irmãs nossos pelo país afora. Mantenhamo-nos vigilantes para a preservação das nossas vidas e constantes na oração em favor das vítimas dessa trágica situação. Sabemos que a emergência sanitária trouxe ainda um aprofundamento das desigualdades históricas que marcam o nosso país, além de um agravamento crise econômica. São milhões de pessoas sem trabalho, sem perspectivas, sem esperança.

Diante desse cenário, que clama por uma ação firme, ressoa em todos nós a mensagem do Papa Francisco: “a política é uma forma alta de caridade” (Audiência Geral, 20-04-2020). Pensando num contexto de eleições municipais, vale recordar o que nos diz a Igreja no Brasil, nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora: “A figura da cidade ajuda a expressar tanto o que está acontecendo no mundo e no Brasil de hoje, quanto iluminar a percepção do discípulo missionário sobre a inquestionável presença amorosa de Deus” (DGAEIB, 46).
Neste sentido, recordamos sucintamente alguns pontos para os quais, na condição de cristãos e cristãs, devemos olhar atentamente no transcurso desse processo democrático, que requer a participação ativa de todos os setores da sociedade:

1) Tenhamos, como premissa, a tese de que todo o processo eleitoral deve ser pautado pelo respeito às leis e pela fiel observância das regras da democracia. Por isso, repudiamos a utilização de mecanismos escusos de campanha eleitoral e a produção ou disseminação de conteúdos falsos que usem de mensagens caluniosas ou difamatórias (as chamadas ‘fake news’).

2) A escolha dos nossos candidatos deve ser antecedida de um discernimento à luz dos valores inspirados pela Palavra de Deus. Tenhamos em conta, na hora de analisar as biografias e os projetos dos candidatos, o compromisso com o desenvolvimento integral, o cuidado com a natureza, o zelo pelo bem comum e a promoção da dignidade humana, em especial dos pobres e excluídos.

3) Entendemos que a liberdade de consciência é um princípio fundamental para o pleno exercício da cidadania nas eleições. Alicerçados deste valor, recordamos a todos os membros de nossas comunidades para que meditem profundamente antes de escolher em quem votar. Como ensina o Evangelho, “uma árvore é conhecida por seu próprio fruto” (Lc 6,44). Neste sentido, lancemos um olhar de fraternidade em relação àquelas pessoas que, a partir de sua fé na Palavra de Deus no seu testemunho pessoal, estão engajadas na vida das nossas comunidades e preocupadas com a promoção do bem comum e com a proteção dos mais vulneráveis.

4) Lembremo-nos da responsabilidade do poder público municipal no manejo das políticas públicas da saúde, da educação, da segurança, do transporte, da habitação, da questão eco-ambiental e do direito à alimentação. É fundamental termos conhecimento profundo das ideias que um candidato ou candidata defende. Também é necessário examinar os partidos dos candidatos, fazendo um olhar sobre seu histórico de alianças, projetos e opções assumidos anteriormente. É necessário buscarmos informações claras sobre as políticas públicas que se propõem a apoiar e implantar.

5) Neste atual momento da nossa vida democrática, vemos a participação na política partidária cair no descrédito e na desconfiança e, em alguns casos, até ser criminalizada nas discussões cotidianas. Compreendemos a decepção de muitos com atitudes individuais e coletivas de desrespeito à busca pelo bem comum, mas recordamos que, se desejamos aprimorar o funcionamento das nossas instituições, não há outro caminho que não seja o da participação, do engajamento e do acompanhamento dos eleitos.

6) Neste sentido, incentivamos vivamente em nossas comunidades o discernimento para conhecer profundamente a vida, a formação e a história de identificação e compromisso de cada candidato com as nossas diversas realidades locais. É salutar que as comunidades deem oportunidade aos candidatos para que se apresentem seus projetos. Isto pode ser feito por meio de rodas de conversa e debates.

7) Como, neste ano, o distanciamento social imposto pela pandemia é uma realidade, a campanha eleitoral presencial dos candidatos e candidatas com os eleitores está sendo prejudicada. Por isso, é muito importante que, dentro do possível, sejam promovidos, por meio da internet, eventos que favoreçam a reflexão e o estudo dos princípios que devem nortear a escolha das candidaturas.

8) Que sejam os cristãos leigos e leigas, sobretudo aqueles que participam efetivamente de nossas comunidades, incentivados a participar plenamente da vida política e das questões a ela inerentes. Que possam contar com o apoio das mesmas comunidades e, ao mesmo tempo, sejam instados a firmar compromisso moral e ético no sentido de cumprir promessas de campanha, de permitir serem acompanhados, avaliados e cobrados no seu posicionamento frente ao compromisso com as políticas públicas e respeito à Doutrina Social da Igreja.

9) Aos cristãos leigos e leigas de nossas comunidades que se candidataram para as eleições, lembramos que não devem fazer, de seu serviço na Igreja, um espaço de propaganda eleitoral. Portanto, não devem portar, em encontros litúrgicos e pastorais, quando for o caso, qualquer veste ou objeto que faça propaganda da sua candidatura. Também não devem, por outro lado, ser impedidos de continuar sua participação nas comunidades, o que seria contraditório ao incentivo que a Igreja faz a que leigos e leigas atuem ativamente no mundo da política.

10) Pede-se, sobretudo aos clérigos, nestes tempos de polarização, que sejam prudentes no uso de imagens ou outras formas de exposição; que avaliem a delicada decisão de apoiarem explicitamente algum candidato. Cuidem os párocos para que não haja propaganda eleitoral contendo publicidade partidária ou de candidatos nos eventos, nas celebrações litúrgicas e nos locais de culto das paróquias. Um eventual apoio a um determinado candidato possibilitará a todos reivindicarem a mesma distinção.

11) Compromisso com a verdade: deve-se incentivar as pessoas e comunidades a prestarem muita atenção a todo tipo de materiais recebidos – notícias, impressos, mensagens de WhatsApp, das mídias e demais redes sociais – além de verificar a seriedade das fontes e origens que estão divulgando as informações, antes de repassar notícias e mensagens. Nestes tempos de facilidade de divulgação de informações, sabemos que também existem pessoas e grupos dispostos a prestarem desserviço, divulgando mentiras e notícias infundadas. Inclusive, existem serviços gratuitos na Internet que se dedicam a averiguar a veracidade do que é veiculado.

Desse modo, sintamos renovado em nós o chamado a participarmos ativamente no processo eleitoral. Uma sociedade renovada passa, necessariamente, por instituições renovadas. Por isso, pensemos com cuidado e escolhamos com discernimento aqueles que pretendemos eleger para nossas câmaras de vereadores e prefeituras.
Permaneçamos unidos em oração, uns pelos outros. Que a Bênção do Alto nos acompanhe. E que Nossa Senhora da Conceição, a Mãe dos aflitos que estão junto à Cruz, vele por nós e pelo nosso povo.

Em Cristo Jesus,

Mons. José Eduardo Meschiatti
Vigário Geral da Arquidiocese de Campinas

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