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O mito da eterna juventude

Artigo Pe. Victor - Correio Popular de 18/06/13

18/06/2013

Como sempre faço todas as terças-feiras, fui visitar uma casa de repouso. Uma das várias atendidas pelo Divino Salvador. Gosto de visitar, rezar a Eucaristia e levar a Unção dos enfermos aos doentes, aidéticos e idosos. Acredito que a função do presbítero também é tirar Deus do templo e levá-Lo àqueles que estão à margem de nossa sociedade, esquecidos pelos políticos, ministros religiosos, familiares, mas não aos olhos de Deus.

Ao sair daquele recinto sentia um misto de vazio e de indignação. Vazio por que nossa sociedade quer a todo custo esconder a velhice. Vazio por que nossa sociedade nos incute uma eterna onipotência como se nunca fôssemos passar pela debilidade da doença e velhice. Não somos preparados para a adoecermos, envelhecermos e morrermos. Nos tempos em que vivemos falar de morte é proibido. É muito comum, com o pretexto da falta de tempo, as famílias se desvencilharem de idosos colocando-os em casas de repouso.

Numa sociedade da imagem, como a nossa, é comum muitas famílias esconderem seus idosos, colocando-os nessas casas de repouso que a cada dia se tornam verdadeiros depósitos humanos sem muita importância.

Um sentimento de perplexidade me envolvia. Era provocado pelos seres humanos. Se por um lado são tão preocupados com a busca da felicidade, tão absorvidos com a nobre causa dos animais, por outro lado tão despreocupados com seus semelhantes. Minha sensação era como se estive sendo enganado por esta sociedade que prega a felicidade a todo custo, verdadeira publicidade enganosa. Era inevitável naquele momento não me projetar ao futuro e me perceber mais um velho abandonado. Confusamente me vinha à mente um pensamento sartreano: Estamos todos condenados a envelhecer…

Conheço muitos senhores que passaram dos 80 e que ainda não souberam lidar com os limites de suas vidas. Não aceitam as limitações que a idade lhes impõe aos seus corpos. Alguns chegam ao ponto de não se suportarem e cometerem suicídio. Desde pequenos foram induzidos a sempre serem viris. Não foram educados às fraquezas, ao choro, às desilusões e frustrações inerentes da humanidade.

Tudo é muito engraçado em nosso tempo. Somos ‘configurados’ a sermos competentes, a buscarmos nosso lugar ao sol, mas jamais somos preparados a passar pelo sofrimento, desilusão e a dor. Não nos falaram da importância de vez em quando se ter um colo para chorar e de um ombro amigo para desabafar.

Enfim, acredito que ninguém conseguiu definir tão bem o Homem de nosso tempo, e, consequentemente nossa atual sociedade, como Dalai Lama neste pensamento: “Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem o presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido.”

Pe. Victor Silva Almeida Filho – vigário paroquial

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