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Marcos e o Advento

Artigo Pe. Victor - Correio Popular 02/12/14

2/12/2014

No último Domingo, dia 30, a Igreja Católica espalhada pelo mundo todo iniciou um novo tempo litúrgico. Um novo ano se faz na liturgia com o chamado tempo do Advento, que se inicia mais ou menos um mês antes da conclusão do calendário civil. Visa uma preparação mais intensa para as festas de final de ano, de modo particular o Natal, que é a celebração da encarnação do Filho de Deus que vem assumir nossa humanidade. É também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo que já acontece no cotidiano de nossas vidas.
Com o Advento inicia-se um novo ciclo de leituras com um novo evangelista. Este ano retoma-se a leitura do Evangelho de Marcos. Seu texto é um dos mais antigos, ficando atrás apenas das cartas de São Paulo, considerados os primeiros escritos cristãos que se tem notícia.
Hoje se suspeita que Marcos seja o texto com maior conteúdo histórico referente à vida de Jesus, por ser o texto que se encontra mais próximo do evento histórico “Jesus de Nazaré”. Isso, por ter sido escrito aproximadamente 40 anos após a morte de Jesus, mais ou menos na época da revolução judaica ocorrida em 66 d. C. Teria servido de fonte redacional para Mateus e Lucas, outros dois evangelistas. Digamos que Marcos foi a primeira reportagem, recolhendo narrativas da época e influenciando o que viria na sequência. Prova disso é que nos quatro Evangelhos não há a preocupação da narração do nascimento de Jesus. Só um deles, São Mateus, fala da visita de magos a Jesus, que será visitado por pastores em São Lucas.
De fato, o Evangelho de Marcos apresenta algumas características interessantes. Se comparado com os outros Evangelhos, Marcos é bastante sutil em suas colocações. Passa sua ideia e já parte, sem preocupação com explicações, para outras informações. Por exemplo, no capítulo 11, 2, Jesus manda seus discípulos buscarem um jumentinho amarrado à porta da cidade. Nesse trecho, Marcos faz referência, de modo implícito, ao Antigo Testamento, especialmente à perícope 1Rs1, 38-44. O contexto é de posse ou de sagração de Salomão rei de Jerusalém, designado por Davi. Ao fazer isso, Marcos sutilmente nos diz que Jesus é o novo “rei de Israel”. Não preocupado com o poderio militar como os imperadores romanos, mas um rei pacífico, preocupado com a vida de seu povo. Vale lembrar que a acusação de se autodenominar “Rei dos Judeus” foi o motivo de sua morte. (cf. Mc 15, 26.)
Em Marcos, há uma certa ansiedade subjacente em querer passar ao seu leitor informações sobre quem é Jesus, uma preocupação com a identidade messiânica de Jesus. Nos primeiros oito capítulos são relatados 14 milagres de Jesus. O primeiro e o último estão relacionados com a identidade de Jesus. No primeiro milagre, realizado em um sábado na sinagoga de Cafarnaum, Jesus expulsou um espírito impuro que gritava revelando sua identidade: “Sei quem tu és: o Santo de Deus” (Mc 1,21-27). No capítulo 8, 27, faz a pergunta no caminho sobre sua identidade aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?”
E acredito que o mais fantástico em São Marcos seja a ironia “marcana”. Em Marcos 14, 43-52 Judas é um alerta à comunidade, pois nela poderia haver infiltrações e outros interesses, o que provocaria rupturas, distorções e traições ao projeto de Jesus. A ironia do beijo é usada por Judas como “senha” para mostrar aos líderes judaicos quem era Jesus. O corte da orelha por uma espada simboliza que os líderes dos judeus não prestam ouvidos à mensagem de Jesus. Mais uma ironia é apresentada quando ele fala: “estive convosco no Templo, ensinando todos os dias e não me prendestes…”
Enfim, a leitura mais atenta do Evangelho de Marcos, que possui apenas 16 capítulos, e a celebração do Advento são oportunidades de alimentarmos nossa espiritualidade na expectativa da vinda definitiva do Senhor no final dos tempos, mas que já acontece no cotidiano de nossas vidas. Que iniciando um novo ano litúrgico, possamos avaliar o que terminou e projetar o que começa tendo sempre como parâmetro o Reino proposto por Jesus nos Evangelhos. A todos vocês um fecundo, alegre e esperançoso Advento.

Pe. Victor Silva Almeida Filho

Formador do Seminário da Arquidiocese de Campinas

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