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HOMILIA – Pe. Nadai | OLHAR A CRUZ E AS CRUZES

Sim celebremos a Semana Santa olhando para a Cruz do Senhor e para as cruzes de todos os crucificados da História.

7/04/2023

Durante este tempo da Quaresma, habita-me um sentimento persistente que me leva a olhar a Cruz do crucificado, Jesus de Nazaré no alto do Calvário, fora dos muros de Jerusalém. Não seria conveniente nem legal manchar de sangue a cidade Santa. “E levaram-no fora para que o crucificassem”(Mc 15,19).

As narrativas dramáticas da crucifixão de Jesus segundo os Evangelhos, ao longo do tempo e ainda hoje, são encenadas em peças teatrais artisticamente representadas, não só em igrejas, mas também em praças e ruas de nossas cidades. As comunidades cristãs, por sua vez, durante a quaresma percorrem a Via Sacra, com a leitura bíblica da Paixão do Senhor, com cânticos e orações, desde o julgamento e condenação por parte de Pilatos até o sepultamento do corpo de Jesus por iniciativa de José de Arimatéia e das mulheres. A Palavra, os cânticos, os benditos, as orações e as invocações acompanhadas de gestos rituais levam-nos do simples olhar da Cruz para uma contemplação mais profunda do mistério celebrado: “Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo… humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz”. (Fl 2, 6-8).

Do olhar da Cruz passamos ao olhar das cruzes. Da contemplação do mistério da Cruz de Jesus de Nazaré, baixamos o olhar para o chão das cruzes dos crucificados da História. Aquela veneramos! Essas nos interpelam a sermos, de algum modo, Cirineus que tornam mais leve o peso delas e samaritanos que vêm, têm compaixão, aproximam-se e cuidam dos caídos à beira do caminho.

Quem de nós não identifica rapidamente a Cruz do Divino Salvador e diante dela se põe em adoração: Ave ó Cruz da qual pendeu a salvação do mundo! Entretanto, não é simples olhar, contemplar e deixar-se tocar pelas cruzes dos crucificados espalhadas pelas periferias das grandes cidades, ou mesmo pelas suas praças, ruas, becos e cortiços. Temos pressa! Não temos tempo! Não é comigo! Enfim, não só passamos ao largo; mas, pior ainda, nem nos perguntamos pelas causas sociais, econômicas e políticas dessa triste e dramática situação. E quando alguém o faz, inclusive gente da Igreja, logo é taxado de comunista! Aliás, D.Helder Câmara dizia: “Quando dou comida aos pobres me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres chamam-me de comunista”. Como faz falta um pouco de Teologia da Libertação, a quem assim pensa e age!

E as cruzes estão aí diante de nossos olhos: são os rostos sofredores que doem em nós (na expressão da Igreja). Pessoas que vivem nas ruas das cidades (os moradores em situação de rua). Os Migrantes: pessoas e famílias em mobilidade; os deslocados por diversas formas de violência e os refugiados. Os enfermos, todos; mas especialmente aqueles que não conseguem o devido tratamento ou ficam alojados nos corredores dos hospitais (pela boa vontade constrangida dos profissionais da saúde). “Eles são verdadeiras catedrais do encontro com o Senhor Jesus” (DAP, 417). Os dependentes de drogas. Muitas vezes são crianças e jovens que recorrem à droga para acalmar sua fome ou para escapar da cruel realidade em que vivem (424). Os detidos em prisões, além da pena da privação da liberdade muitas vezes são submetidos a outras penalidades que lhes corroem a saúde física e mental e desrespeitam sua dignidade humana. Como não contemplar a cruz dos desempregados e desalentados, gerando insegurança e angústia às suas famílias, bem como as cruzes dos Sem-Terra e dos Sem-Teto. As cruzes fincadas nos cemitérios onde jazem as vítimas da Covid-19 e dos homicídios. As cruzes que sinalizam o crescente número de cruéis feminicídios. Importa ainda reverenciar o povo Yanomami. Importa dar de comer a quem tem fome…

Enfim nosso olhar se estende ainda até as vítimas inocentes, de guerras entre nações – Ucrânia –  aos campos de refugiados e também às vítimas de implacáveis acidentes geográficos, que clamam aos céus.

Sim celebremos a Semana Santa olhando para a Cruz do Senhor e para as cruzes de todos os crucificados da História. Sejamos esperançosos em um novo mundo possível, onde reinarão a liberdade, o direito e a justiça,onde haverá a Casa Comum do bem viver e do conviver em dignidade e paz igualmente para todos.

Não questionemos o silêncio de Deus diante de tantas tragédias! Ele não tem nada mais a dizer. Já disse tudo na Palavra encarnada, seu divino Filho Jesus Cristo. “Escutai-o” (Mt 17,5). O discípulo, ao escutar, verdadeiramente, o Mestre, há de iniciar um caminho de conversão pessoal e social.

Em tempo, a Celebração da Paixão do Senhor, na sexta-feira Santa acontece, em geral, às 15 horas em todas as Igrejas.

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