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História e memória

Artigo Pe. Nadai Correio Popular de 02/09/14

2/09/2014

Continuam em andamento, em várias esferas do país as comissões da verdade que visam resgatar a verdade histórica sobre o período da ditadura militar, sob cuja responsabilidade perderam a vida ou sofreram tortura, violências, exílio, ou outras privações, muitos cidadãos e cidadãs brasileiros.

Nesta perspectiva de contar a verdade, e de algum modo homenagear as vítimas, desejo neste espaço, reverenciar a memória de um bom amigo.

Antonio Alberto Soligo, falecido no dia 16 de agosto, nesta cidade de Campinas, no Hospital Renascença. Soligo foi padre da Ordem dos Camilianos cujo carisma religioso é o de cuidar dos enfermos. Já por aí se percebe o coração generoso e dedicado ao próximo de Soligo.

Em certa altura de sua vida, no desejo de radicalizar ainda mais sua vocação de serviço solidário resolveu, juntamente com outros colegas, tornar-se padre operário, viver em pequena fraternidade e trabalhar como operário em fábricas.

Assim, Soligo foi trabalhar numa indústria em Osasco juntamente com outro colega, Padre Talpe.

No auge da repressão foram presos. Talpe foi extraditado para seu País, a Bélgica, e Soligo ficou longo tempo preso no DOI CODI (São Paulo), onde foi torturado, o que lhe deixou várias e graves sequelas pelo resto da vida.

Por conta disso foi transferido e internado em hospital, do qual se evadiu e veio para Campinas, onde foi acolhido e abrigado na Paróquia Bom Jesus, do Bonfim, por mim e pelo Pe. Pedro Mayer, também camiliano. Permaneceu conosco durante longo tempo, até que, com o apoio do Bispo Pedro Paulo Koop, de Lins, a quem o apresentei, pode sair rumo ao Peru, com destino a uma comunidade religiosa de sua Congregação.

Deu início então a sua viagem por terra. Ao passar pelo Chile, entusiasmou-se com a revolução socialista de Allende e logo se uniu a muitos brasileiros que por lá viviam no exílio.

Quando aconteceu o golpe militar de Pinochet, foi de novo preso e levado para o famoso estádio transformado em campo de prisioneiros. Teve a sorte de entrar para a fila dos que seriam deportados, escapando da fila dos condenados à morte.

Assim, como refugiado político, foi para a Holanda, onde, tendo deixado o ministério, casou-se, teve duas filhas e, com a anistia, voltou para o Brasil, estabeleceu-se em Santa Catarina, seu Estado de origem. Na verdade não foi fácil retomar sua vida de volta do exílio, moradia, profissão, trabalho. Durante sua estadia na Holanda, tive oportunidade de visitá-lo algumas vezes, numa delas em companhia de Dom Pedro Paulo Koop.

Infelizmente, depois de muitos anos fui reencontrar o Soligo já gravemente enfermo, assim como sua esposa, filhas e filho.

Senti, contudo, que o tempo de separação não afetou minha admiração, estima e amizade que sempre lhe dediquei. Hoje, reverente, presto-lhe minha homenagem, na certeza da fé cristã que norteou também sua vida. Que Deus o tenha no seu coração de Abba-Pai.

Pe. José Arlindo de Nadai – Paróquia Divino Salvador

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