Homilia da Missa do Jubileu Presbiteral
7/01/2013
HOMILIA DA MISSA DO JUBILEU PRESBITERAL – 06.01.2013
Celebramos hoje a festa da Manifestação de Jesus às Nações, popularmente chamada também festa dos Reis Magos.
Esta celebração coloca-nos ainda na contemplação do mistério da Encarnação e de joelhos diante do presépio.
Duas categorias de pessoas bem diferentes, segundo os Evangelhos de Lucas e de Mateus, são as primeiras a visitarem Jesus.
Os personagens de Lucas são os Pastores dos campos de Belém, das cercanias da gruta, onde pernoitavam guardando seus rebanhos. Quando recebem o anúncio do anjo sobre o nascimento do Menino eles vão às pressas encontrar o recém-nascido reclinado mansamente numa manjedoura, sob os cuidados de Maria, a Mãe e a proteção de José, o pai.
Os personagens de Mateus, conforme o Evangelho que acabamos de ouvir, vêm de longe, nem se sabe ao certo donde vêm. Vêm por um caminho e voltam por outro. São guiados por uma estrela nos céus e por uma luz no coração. Passam antes por Jerusalém, realizando assim a profecia de Isaias:
“Levanta-te, Jerusalém e acende as tuas luzes… As nações caminharão na tua luz, e os reis no clarão de teu sol nascente… trazendo ouro, e incenso… “(60,3-6)
Um verso cantado na Folia de Reis, em várias regiões do Brasil, a começar de Goiás, diz assim:
“Os pastores foram os primeiros
os três reis foram os segundos
que fizeram a adoração
ao Salvador do mundo”.
Os magos depois da visita decepcionante ao cruel Herodes retomam o caminho de Belém guiados pela estrela deixando para trás Herodes e toda a cidade de Jerusalém alarmados.
“Ao entrar na casa, viram o Menino com Maria, a sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” (MT 2,11)
O sentido religioso e bíblico desta festa aponta para o universalismo da salvação trazida por Jesus Cristo. A luz de Cristo, como o Sol, brilha para todos.
“As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor!” (Sl 51)
Este mesmo salmo conclui:
“Ele liberta o indigente que clama e o pobre que não tem protetor”.
A leitura da carta de São Paulo aos Efésios comenta que Deus revelou também aos pagãos o Mistério de Cristo. Todas as nações são chamadas à Salvação pela mediação de Jesus Cristo. Ele não é o Salvador de um povo mas de toda a humanidade. Somos o novo povo de Deus, herdeiro das antigas promessas dos profetas.
Assim todos nós… cada um de vocês, está revestido da própria vida de Cristo. Você está enraizado n’Ele como o ramo ao tronco da videira.
Irmãos e irmãs que esta celebração de hoje suscite em nossos corações a mesma alegria que tomou conta dos Magos quando encontraram o Menino em casa com sua Mãe. “Eles alegraram-se intensamente (MT 2,10), assim como também os Pastores glorificaram e louvaram a Deus” (Lc 2,20)
Como eles, precisamos redescobrir e vivenciar o sentido profundo da verdadeira alegria da vida cristã e também a alegria da vida presbiteral. O anúncio do mistério de Cristo, para ser ouvido e aceito, precisa irradiar alegria, a alegria do encontro com o Senhor Ressuscitado.
A visita dos Magos é um sinal que aponta para o universalismo da fé cristã, que deve encarnar-se em todas as culturas, ao mesmo tempo respeitando-as e iluminando-as.
Sabemos que há muros de tijolos e cimento, como aquele que divide hoje a cidade de Jerusalém ao meio, fazendo os palestinos prisioneiros em sua própria cidade. Mas há também outros tipos de muros que separam as pessoas, as categorias sociais, as nações ricas e pobres e também as próprias Religiões, quando assumem atitudes fundamentalistas. Há ainda um longo caminho a ser percorrido em vista da sonhada unidade, tão longo quanto o dos Magos. Mas temos, como eles, à nossa frente a estrela da esperança que nos guia!
Por isso, não foi por acaso que escolhi esta data – seis de janeiro, solenidade da Manifestação do Senhor para minha ordenação de padre e também para celebrar hoje o jubileu de 50 anos do anúncio do Mistério de Cristo e da Igreja.
Esta festa dos Reis Magos, muito me fascina pela luz da estrela que ora brilha e ora se apaga – aparece e desaparece – símbolo da vida do discípulo que caminha no lusco-fusco da fé, todavia sempre ancorado na esperança cristã.
Além disso, atrai-me a figura dos Magos, com os quais me identifico, na busca… nas incertezas… na alegria… e na sabedoria de seguir por outro Caminho, bem diferente do caminho de Herodes e doutores do Templo, garantidores do sistema político e religioso da época. Nossa caminhada assemelha-se, um pouco, à deles:
“Viemos por desertos desde longe
seguindo uma estrela fugidia
entre areias, medos e perguntas.
De tão longe até aqui viemos vindo
que esquecemos o lugar de onde viemos.
É tão longe o lugar de onde somos
que viemos vindo como o vento.
Não lembramos bem porque viemos
e uma estrela vinha à nossa frente,
mas sabemos bem por quem voltamos.
Por um menino de falas de outra língua
vestido de algodão e lá puída
a quem demos incenso, mirra e ouro
e sequer o nome perguntamos.” (C. R. Brandão)
Pe. José Arlindo de Nadai
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