Bíblia!? Pra quê?

Todos os anos a CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, convida a Igreja Católica para que durante o mês de Setembro se faça uma reflexão mais aprofundada sobre algum livro da Sagrada Escritura. O convite este ano é feito para aprofundarmos nossa leitura, oração, estudo e reflexão sobre o Evangelho de Lucas. Mas qual a serventia da Sacra Pagina para o nosso tempo, por que precisamos ainda hoje conhecer e estudar a Bíblia?

De antemão precisamos rechaçar a ideia de que os textos escritos há dois ou três mil anos atrás podem ser aplicados automaticamente às situações de hoje. Ou seja, precisamos repelir a ideia de que, enquanto Palavra de Deus, a Bíblia não necessita de atualização. Se assim fosse, como poderíamos concordar com o texto bíblico que chama o mamífero morcego de ave? (conf.: Levítico11, 19. ou Deuteronômio14, 18.). Como concordar com o texto do Livro do Êxodo que autoriza a venda de filhos como escravos (conf.: Êxodo21,7). Nos tempos em que vivemos, na sua opinião, qual seria o preço adequado para um filho escravo? O livro de Levítico 25,44 estabelece que posso ter escravos, tanto homens quanto mulheres, desde que não sejam adquiridos de países vizinhos.

O fundamentalismo surge quando alguém assume um objeto (coisa, instituição ou pessoa) como a fonte única, fundamental e infalível dos valores e das verdades. Eis por que fundamentalismo e fanatismo estão sempre de mãos dadas. Cristãos com leitura fundamentalista da Bíblia são os que acreditam que as Sagradas Escrituras foram ditadas diretamente por Deus e que, por isso, tudo o que nelas está escrito deve ser obrigatoriamente obedecido para sempre.

Precisamos entender que os textos bíblicos não tem uma pretensão científica, mas teológico-catequética. É extremamente errado perguntar se tal ou tal passagem aconteceu do modo como está narrado. A melhor pergunta a se fazer ao texto bíblico é: que atitude você (texto) me pede a assumir para minha vida? Qual o seu objetivo em mostrar essa narrativa dessa forma? Que propósitos você me impulsiona a tomar, revelando tal fato dessa maneira?

Em 1993 a Igreja Católica lançou um documento chamado de: A interpretação bíblica na Igreja, onde indica os caminhos que se devem ser tomados para uma correta interpretação. Lá o veredicto é claro: a Igreja Católica condena somente a leitura fundamentalista.

A Igreja adota dentre diversas leituras, a chamada Leitura histórico-crítica. Ela tem como objetivo a busca do sentido primitivo do texto bíblico; procura conhecer as circunstâncias históricas de sua produção, o desejo de seu(s) autor(res). O método histórico-crítico não destrói a verdade da Bíblia, mas a coloca sob nova perspectiva. Esse método pode ser aplicado desde que em comunhão com a Igreja.

Assim sendo, a Paróquia Divino Salvador realizará nos dias 11, 18 e 25 de Setembro um Ciclo de estudos sobre o Evangelho de Lucas em consonância com o Magistério do Papa Francisco. Maiores informações poderão ser obtidas na secretaria paroquial.

A Bíblia quando bem entendida leva as pessoas a sair de si mesmas a um comprometimento com o outro e com o Outro nos mais diversos setores da vida. Que sejamos amantes e praticantes da Palavra de Deus que também é palavra dos homens. (Tiago1, 22.)

     Pe. Victor Silva Almeida Filho – vigário paroquial