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Reinventar a Fé

Artigo Pe. Victor - Correio Popular 05/03/2013

2/03/2013

Reinventar a fé

Os sinais dos tempos exigem a reformulação da nossa fé. Já não cabem mais o modelo impositivo da Cristandade, nem o intelectivo da modernidade. Importa hoje a orientação para a vida, um sentido para viver e nisso temos aberta uma à mensagem cristã. Longe de todo autoritarismo, o cristianismo é um modo “inusitado” de viver a vida humana, concentrado na pessoa experimentada de Jesus.

A fé chega ao auge quando o cristão entra em contato e dialoga com a Pessoa que está por trás dos dogmas e leis, reconhecendo que essa Pessoa é capaz de oferecer um “algo mais” em termos de sentido às nossas existências. Na verdade, uma opção entre tantas outras que ajuda a interpretar e entender a dinâmica da vida, na busca constante por um sentido. Por meio Dele, descobrimos que Deus se esconde no efêmero, no cotidiano e na ambiguidade da vida humana. É nos escombros das mazelas que Deus repousa. É na Cruz que a vida demonstra seu poder. Cristo nos ajuda não por sua onipotência, mas com sua fraqueza, seu sofrimento.

Seguir Jesus só faz sentido, na medida em que der sentido à vida real. É isso que explica a entrega da vida de tantos mártires de ontem de hoje. É isso que explica o seguimento específico e radical. Com isso entende-se a opção por Jesus num pluralismo de opções, ou seja, Nele encontramos “o sentido”. Dom Helder Câmara certa vez disse: “se tivesse nascido cem vezes, cem vezes seria padre”. A opção específica que ele fez, por Jesus e pelo Reino, deu sentido à sua existência e daria quantas vezes pudesse existir. No entanto, chegar a essa conclusão depende, sobretudo, do esforço pessoal na “reinvenção” da fé: encontrar a Pessoa atrás dos dogmas, doutrinas e Leis.

“Reinventar” a fé é um exercício que se resume em descobrir o sentido para além do imediato. Passa pela transformação da realidade à luz da crença em Jesus. O axioma da Carta de Tiago é perfeitamente válido: “A fé sem obras, é morta” (Tg 2, 17). O sentido que encontro em Jesus só será pleno se me impulsiona a ultrapassar tudo o que diminui e impede a vida. A “reinvenção” da fé está marcada pela obrigação do diálogo: fé e vida; fé e ciências; fé e política, sobretudo. Do contrário ela se autocondena a ser “peça de museu”.

Se for verdade que, enquanto não desaparecer o último ser humano não estará esgotado o discurso sobre Jesus, urge que a Igreja e os que reclamam a fidelidade a Ele, sejam capazes de elaborar algo com sentido para o homem e a mulher de nosso tempo, a fim de que a experiência de Jesus de Nazaré seja valorizada no que tem de melhor: sentido novo para uma vida que, pelo sofrimento e a dor, parece não ter sentido. “Reinventemos”. Talvez não sobre Ele, mas o façamos a partir Dele, como Aquele que é nosso libertador e nossa esperança.

Victor Silva Almeida Filho, vigário da Paróquia Divino Salvador
e formador do Seminário propedêutico da Arquidiocese de Campinas

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