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Vieira e a Palavra

Artigo Pe. Victor - Correio Popular de 27/10/2014

28/10/2014

Padre Antonio Vieira, no seu sermão da Sexagésima, ou da Palavra de Deus, pregado na Capela Real, em Lisboa, em março de 1655, constata que nunca na Igreja de Deus houve tantos pregadores como hoje. Lá, Vieira se indaga: “pois se semeia tanto a Palavra de Deus, como é que aparecem tão poucos frutos? Que é isto? Se a Palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que vemos tão poucos frutos desta mesma Palavra?”
O questionamento do Padre Vieira, ressalvadas certas medidas, poderia ser feito ainda hoje, após quase quatro séculos. Há centenas de templos espalhados pelas cidades, muitas vezes com pregações diárias. E, por incrível pareça, podemos nos perguntar ainda hoje, como Vieira: Por que a Palavra de Deus produz tão pouco fruto? Assim como Vieira, penso que existam elementos que entram em jogo no processo comunicativo da Palavra de Deus.
O primeiro elemento é a pessoa do pregador. Seja ele bispo, padre, diácono, leigo ou leiga, sua primeira atitude é “colocar-se como ouvinte e necessitado da Palavra”. Deve meditá-la em seu coração para transmiti-la vivamente, a fim de não ser “mero retransmissor”. A Palavra deve ser comunicada com amor, paixão e atitude de acolhimento.
Os ouvintes devem estar atentos e dóceis à Palavra, deixar-se tocar por sua mensagem. Pois a Palavra deve causar uma “impressão” no receptor, deve provocar uma atitude de aceitação de Jesus Cristo e de seu Reino. Nem sempre nossas assembleias dão a devida importância às homilias e pregações. O esforço de refletir os ensinamentos da Bíblia não deve ser apenas do pregador, mas de todos que o escutam.
Como um terceiro elemento é a linguagem a ser utilizada. É preciso se valer de um código comum, uma linguagem inteligível por todos. Sem um código comum ou linguagem, entre emissor e receptor, não há comunicação. Da mesma forma, não haverá evangelização se os meios utilizados pelo pregador forem desconhecidos dos receptores. Este talvez seja um dos maiores desafios da nova evangelização: falar a linguagem de nosso povo, mas acima de tudo, atingir os corações.
O conteúdo principal da mensagem deve ser sempre o Mistério de Cristo. Muitas vezes nossas assembleias paroquiais não encontram na homilia a centralidade da Pessoa de Cristo. Alguns pregadores fogem dessa responsabilidade, falando de todos os assuntos do dia-a-dia, sem relacioná-los com Jesus Cristo e sua obra de redenção. Acabam fragilizando ainda mais os corações das pessoas com pessimismos, análises superficiais da realidade e argumentações subjetivas. Ou mesmo, nesse momento da pregação, falando da importância do dízimo, vendendo viagens a lugares sagrados ou aproveitam para dar broncas no fiéis, mas a principal mensagem não é transmitida.
A pregação da Palavra de Deus deve ser como uma luz que brilha e ilumina o coração das pessoas, colaborando para que cada um possa encontrar o sentido de sua vida e questionar a prática individual e comunitária da justiça e do amor misericordioso de Deus. Por isso, a Palavra de Deus não pode jamais ficar em segundo plano.
Um outro elemento é que todos devem rogar ao Espírito o dom da escuta da Palavra. Em Apocalipse (2, 29), São João diz: “quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas.”
Por fim, acreditamos que a proclamação da Palavra de Deus exige “algo de poético, de arte, de beleza. O próprio Cristo usou os recursos artísticos da palavra, como parábolas, símbolos, metáforas, antíteses. Podemos dizer que Ele foi um Mestre na arte de falar. Acrescentamos a essas considerações o entusiasmo, a alegria, a convicção e a satisfação de refletir com a comunidade a Boa Nova.

Pe. Victor Silva Almeida Filho

Formador do Seminário da Arquidiocese de Campinas

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