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Ser cristão com e para os outros

O Bom Pastor, aquele que dá a sua vida pelas ovelhas

21/04/2013

O quarto Domingo da Páscoa é tradicionalmente chamado de domingo do “Bom Pastor”. O título tem razão de ser, pois as leituras e as orações nos levam a contemplar Jesus como o Bom Pastor, aquele que dá a sua vida pelas ovelhas. Na Páscoa, esse mistério é ainda mais acentuado quando se considera a morte e ressurreição do Senhor como a suprema doação da vida de Filho de Deus para a salvação do mundo.

Mas, a oferta que Jesus faz de sua vida se prolonga na vida de muitos homens e mulheres que se entregam pela via dos outros, doando-se abnegada e gratuitamente por causas das quais poderiam se eximir. Entretanto por decisão livre, por solidariedade, por reconhecimento de tudo o que são e possuem, movidos pelos impulsos do Espírito, religiosos ou não, fazem da sua existência um serviço de amor capaz de gerar vida nova e, em muitos casos, salvação.

A eucaristia e lugar privilegiado de reconhecer esses sinais do Ressuscitado espalhados na sociedade e no mundo. Ela nos abre os olhos e os ouvidos para contemplar a misteriosa ação de Deus na história, projetando a luz da fé sobre as coisas bonitas que a televisão, os jornais, e a cultura atual não querem mostrar.

O cristão, que vive da vida nova do Ressuscitado, rompe com os esquemas que aprisionam a vida que Deus ofereceu para todos em seu Filho. Com a força e a coragem do Pastor, lutam pela universalidade da salvação que não ficou aprisionada nem à cruz e nem ao sepulcro.

O brevíssimo evangelho traz riquezas imensuráveis, sobretudo, se confrontadas com as demais leituras da liturgia desse dia. Jesus não se declara o Bom Pastor. Porém o capítulo, de onde o texto foi extraído, oferece essa auto declaração de Jesus, como tal (cf. Jo 10, 11-14), aqui prolongada em contexto de conflito. De fato, os versículos extraídos não deixam transparecer em que situação Jesus afirmou tais coisas (Ver o contexto vital escriturístico: Jo 10, 24-31).

Jesus estava sendo pressionado pelos seus opositores a declarar abertamente se era ou não o Messias, Tirando o fato de que a ideia do Messias no tempo de Jesus era um tanto ambígua e que, por isso, Jesus se recusara a afirmar publicamente a sua messianidade, o contexto faz entender quem são as ovelhas de Jesus. Por certo, não são aqueles que o pressionam, pois esses não escutam a sua voz, rejeitam a sua Palavra e as obras que lhe dão corpo.

Eles ainda não reconhecem a estreita ligação de Jesus com o Pai. As afirmações de Jesus no evangelho, na verdade, fazem contraste com a rejeição dos seus adversários que, ao final do diálogo, apanham pedras para lapidar Jesus.

No entanto, o contexto litúrgico explicita e amplia a visão a outros aspectos não tão claros e oferece novas relações, pois as ovelhas são dadas a Jesus pelo Pai. Ele, na verdade, é o Pastor de Israel (Cf. Sl 79 (80)), assim reconhecido pelos judeus, conforme entoou o salmo de resposta: “nós somos seu povo e seu rebanho”.

De outro lado, a liturgia aponta para as ovelhas como aquelas que escutam a voz do Filho de Deus. Essa é sua marca distintiva: elas não se distinguem mais por uma ração ou nação, mas pela adesão ao Messias, o Filho de Deus, e a sua Palavra. Assim narra os Atos, quando mostra a oposição dos judeus ao anúncio do evangelho e a adesão dos pagãos. Do mesmo modo, o livro do Apocalipse fala de “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar”.

A mudança de perfil das ovelhas assinala aquilo que verdadeiramente importa: a escuta da voz de Cristo, que significa a adesão a Ele. Essas são dadas pelo Pai ao Filho. A pertença a Jesus é assegurada pela Mao do Pai e igualmente pela Mao do Filho, visto que ambos são um só. As ovelhas também se perdem, pois são participantes da vida eterna que lhes foi dada por Jesus.

Mas o Filho que com o Pai é um, e igual ao Pai tem firme na mão suas ovelhas, tem também alguma identificação com elas. No livro do Apocalipse, Ele é o Cordeiro. Com seu sangue, a ovelhas lavaram e alvejaram as suas vestes. O texto, retomando a mesma temática do Salmo 23 (22) diz que o Cordeiro é o pastor que conduzirá as ovelhas para as fontes da água da vida. Cristo é, a um só tempo, Pastor e Cordeiro, um com o Pai e um com o rebanho.

Dois aspectos enriquecem a vida cristã neste domingo: a comunhão e a doação de si. Jesus entra em comunhão com o seu rebanho e se doa voluntariamente pela salvação dos seus. Essa comunhão e autodoação têm sua fonte no amor entre o Pai e o Filho. Comunhão e autodoação é o modo de ser de Deus.

Por meio de Jesus passa a ser o modo de ser dos cristãos. Por isso, a vida cristã não se afirma que para os outros é sem importância, porque não toca diretamente nossa vida, passa a ser importante, porque bebemos de uma fonte de amor.

Assuntos e realidades como a fome, a violência, a dependência química, a injustiça que arranca os direitos essenciais à vida, as doenças, a corrupção, que criminosamente se propagam entre nós, são do nosso interesse e exigem ações da nossa parte em vista da vida e da salvação de todos. A experiência da ressurreição não pode ser entendida como graça particular, porém como missão, norma de uma vida aberta e devotada aos outros.

Nem é necessário bancar o super herói atento aos atos criminosos ou perigos sofridos por outrem. A vida exige que trabalhemos, cumpramos nossas obrigações, façamos nossos deveres, como cuidar da casa, da família, da própria saúde, ate mesmo do lazer e do descaso. Contudo, é preciso encontrar lugar para o amor abnegado, gratuito e desinteressado. Encontrar tempo para sair de si e encontrar o outro que necessita.

Basta abraçar uma causa, dedicar-se a uma meta em prol de uma situação, agremiar-se a um grupo, dar sua contribuição para um mundo melhor. Quem sabe, assim, o amor de Deus se torna mais evidente a um mundo tão fechado e ensimesmado?

A Oração do Dia suplica a Deus que os fiéis sejam conduzidos “à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho possa atingir a fortaleza do Pastor”. A Oração é assaz bela e profunda, pois traduz de modo perfeito e poético o fim da vida cristã. A liturgia coloca os fiéis em jogo de identidade com o Bom Pastor: pela reunião, pela Palavra, pela Eucaristia, pela missão, todos vão se configurando a Cristo e deixando que ele imprima na comunidade, pela força do Espírito, as feições que lhe são próprias.

Na reunião da comunidade, todos fortalecem sua identidade de povo escolhido e reunido no amor de Cristo. Na escuta da Palavra, segundo o que ensina o evangelho de hoje, todos participam de sua vida entregue voluntariamente para a salvação do mundo, nos ritos de envio, todos são dispersos na força do Espírito para levar a Paz de Cristo ao mundo.

Mas nada disso é feito sem que provenha do próprio Cristo a iniciativa: de reunir seu rebanho, de lhes falar ao coração, de nutrir sua fé à mesa da eucaristia, de fortalecer-lhes no envio. É a fortaleza do Pastor que configura o rebanho.

Essa fortaleza é o outro nome do Espírito que conduziu Jesus e que agora age sobre os eu Corpo, a Igreja, distribuindo para todos os membros as riquezas da Cabeça. A celebração nos faz rebanho do Cristo. Todavia um rebanho para os outros, em vista da salvação do mundo.

 

Pe. Victor Silva Almeida Filho

Vigário paroquial

 

Fontes: Subsídio Arquidiocese de Belo horizonte, Subsídio CNBB e Pias discípulas do Divino Mestre

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