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Santa Maria Mãe de Deus | Dia Mundial da Paz

Maria assume seu lugar de importância como aquela que nos aponta e nos conduz a Cristo.

1/01/2014

Prezados irmãos e irmãs, estamos celebrando o Mistério pascal de Jesus Cristo. Fazemos memória de Maria, mãe de Deus. Maria assume seu lugar de importância como aquela que nos aponta e nos conduz a Cristo. Hoje nossa celebração ganha contornos ainda mais especiais por que queremos render graças a Deus-Pai por todo o ano de 2013. Queremos dizer nosso muito obrigado ao Senhor por tudo o que vivenciamos neste período de tempo. Sabemos também que nem tudo são flores. Também rendemos graças a Deus pelos momentos de dor e alegria, pelas perdas e vitórias, lágrimas e sorrisos, pela ausência das pessoas amadas e por sua presença. Deus está sempre conosco. Não se afasta de nós. Gostaria de lembrar nosso querido arcebispo emérito, Dom Gilberto Pereira Lopes, e fazer uso de um de seus poemas, quando diz: “tudo é graça, Senhor, em minha vida, tudo é graça”. Hoje é dia de olhamos para trás, para um balanço do ano que passou. Hoje é dia de olharmos a frente, fazendo um projeto para o ano que vamos construir. “Bem-aventurados os construtores da paz”. Esse é o tema escolhido pelo Papa Bento XVI para este Dia Mundial da Paz, que hoje celebramos. Hoje também celebramos Maria como a Theotokos. Maria é mãe de Jesus e por ser Jesus Filho de Deus, Maria é mãe de Deus. A Igreja assumiu oficialmente esta verdade já dita pelos padres da era Patrística no Concílio de Éfeso, em 431.

Sempre que celebramos a Eucaristia celebramo-la recordando a Páscoa do Divino Salvador. Mesmo dentro deste tempo natalino o centro e o motivo de nossa reunião não é outro senão a Ressureição de Jesus. A Eucaristia sempre tem como centro Jesus Cristo.

O Evangelho de Lucas que a pouco ouvimos mostra a Sagrada família a receber a visita de pastores. Lucas não está interessado aqui em fazer uma reportagem do nascimento de Jesus e das “visitas” que o Menino de Belém recebeu, mas em nos revelar a quem, especialmente, é direcionada a vinda de Jesus. Se no Evangelho de Mateus Jesus é visitado por magos, revelando a universalidade da vinda de Jesus, no Evangelho de Lucas é visitado por pastores. Os pastores era a classe marginalizada dos pecadores, vistos pela religião oficial judaica como afastados da salvação de Deus; porém, estes mesmos pastores são os primeiros a quem se revela a Boa-notícia do nascimento de Jesus.

Irmãos e irmãs, reparemos em primeiro lugar como os pastores se dirigem “apressadamente” ao encontro do Menino. A palavra “apressadamente” sublinha a ânsia com que aqueles mais desprovidos esperam a ação de Deus em seu favor. Aqueles que vivem numa situação intolerável de sofrimento e de opressão reconhecem que, com Jesus, chegou o momento da libertação e apressam-se a ir ao seu encontro. Em segundo lugar, merece destaque a reação dos pastores ao encontro com Jesus: “glorificam” e “louvam” a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido (conf. Lc2, 20.). Agora se tornam porta-vozes de sua presença salvadora/libertadora. E finalmente atentemos na atitude de Maria: conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração (conf. Lc2, 19). “Observar”, “conservar”, “meditar” significa ter sensibilidade para entender os sinais de Deus e ter a sabedoria da fé para ler os acontecimentos de nossa história à luz do Plano de Deus. A atitude de Maria interioriza e aprofunda os acontecimentos e complementa a atitude “missionária” dos pastores que proclamam a ação salvadora e libertadora de Deus por meio do nascimento de Jesus, o Divino Salvador. Maria foi capaz de perceber os Sinais de Deus no acontecer da vida. Ela é-nos modelo para adquirirmos sensibilidade para estarmos atentos à vida e perceber a presença – discreta, significativa, atuante e transformadora – de Deus, nos acontecimentos por vezes banais de nosso dia-a-dia.

Podemos dizer que os pastores voltaram para casa “bendizendo” a Deus pela bênção que, em Cristo, Ele lhes ofereceu. Que bênção seria esta, senão a condição de participantes da filiação divina, conforme nos argumenta a II leitura: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu filho, nascido de uma mulher (…) para que todos recebêssemos a filiação adotiva.” (conf. Gl4, 4.)

Esta 2ª leitura é um trecho da Carta de Paulo aos Gálatas. Paulo é acusado de não ser fiel pregador da verdade do Evangelho; além disso, exigiam uma fiel observância à Lei mosaica. Paulo percebe que Jesus não nos veio trazer uma forma de se buscar a Deus escrava de Leis e rituais exteriores que pouco tinha a ver com a proposta de Cristo. Paulo não quer que o início do Movimento de Jesus se transforme numa religião de ritos e mero cumprimento de regras estéreis. Mas convida os Gálatas a uma escolha: ou pela escravidão da Lei, ou pela liberdade que Cristo veio trazer, mas recorda-lhes algo importante que a Encarnação de Jesus nos veio trazer: a filiação divina. Somos filhos no Filho Jesus. Podemos agora chamar Deus de Papá, Abbá. Um jeito extremamente afetivo de se chegar a Deus. Paulo como bom místico que era, revela um modo de se relacionar com Deus incomum aos judeus do 1º século. Não somos mais escravos da Lei, mas filhos e se somos filhos recebemos por meio d’Ele uma herança, uma filiação divina. E isso não conseguimos por nossos esforços, mas por pura Graça de Deus. Para que ninguém se orgulhe de si mesmo, mas reconheça em Deus essa dádiva.

O primeiro texto que ouvimos é extraído do Livro dos Números. Provavelmente uma fórmula litúrgica utilizada no Templo de Jerusalém, pelos sacerdotes, chamados “filhos de Aarão”, para abençoar a comunidade ao final das funções litúrgicas e que nós, a Igreja, novo Povo da aliança, também a assumiu. O Senhor, Adonai, te abençoe e te guarde! O Senhor, Adonai, faça brilhar sobre ti o seu rosto sorridente e te conceda a sua graça! Que o Senhor, Adonai, te olhe com benevolência, te acolha e te conceda a paz! (conf. Nm6, 24-27). Esta não é qualquer bênção, mas é bênção do próprio Deus, bênção do Deus da Aliança. E aqui temos uma diferença importante quando se fala de Paz, Shalom, para o povo semita.

Nós ocidentais entendemos Paz na grande maioria das vezes como ausência de guerras. Para o povo semita não é apenas não ter guerras, mas a plenitude de bênçãos, ter: terra (sinal da bênção e do dom de Deus – o solo é sagrado); comida, lar, família, filhos, (uma casa abençoada é uma casa cheia de filhos para dará continuidade ao nome da família e para dar continuidade ao cultivo e a posse da terra; ainda ontem, na Missa da Sagrada Família, cantávamos no Salmo 127: Tua esposa é uma videira bem fecunda no coração de tua casa, teus filhos são rebentos de oliveira ao redor de tua mesa); enfim, é bem maior a compreensão de Paz.

Portanto, peçamos junto com o salmista o que cantamos: “Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção”. Juntamente com o dom da paz, peçamos sobre nós, nossas famílias e sociedade, as melhores bênçãos de Deus para o ano que logo mais se inicia(rá). Próprio da bênção que Deus concede aos seus é a paz, sinal evidente de sua salvação que se propaga no mundo. Não queiramos que o ano novo seja melhor, mas sim, que sejamos melhores no ano novo. E se não conseguirmos fazer o que planejamos, aportemos onde estivermos, sabendo que nossos anos já vividos são sempre renovados por um amor que jamais se desgasta, diminui ou envelhece. Em Deus, que é sempre novo e que a cada manhã nos desperta como um Pai, ou como um noivo, ou como um Amigo maior, dizendo-nos que a vida nos espera e que somos sempre convidados a vivê-la intensa e plenamente.

Que o ano novo nossa cidade não tenha as marcas da corrupção, violência e da falta de saúde; mas que seja repleto de Paz e de realizações. Que assim seja!

Feliz 2014 para todos e todas!

     Pe. Victor Silva Almeida Filho – vigário paroquial

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