Em comunidade dizemos com Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!”

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Neste segundo Domingo da Páscoa, o Senhor se manifesta ressuscitado em sua Comunidade, a Igreja. Ele vem até nós através da Comunidade reunida; faz-nos vencer nossos medos. Ele nos dá a sua paz e sopra sobre nós o seu Espírito. Tome representa a Comunidade que não fez a experiência da Ressurreição e que quer provas concretas para nela acreditar.

Hoje, damos graças ao Senhor por seu eterno amor por nós, sempre disposto a nos perdoar sempre que nosso coração arrependido volta-se para Ele. Como Tomé, apenas em comunidade queremos exclamar maravilhados: “Meu Senhor e meu Deus!”

Jesus se manifesta aos discípulos reunidos para celebrar o memorial de sua Páscoa no primeiro dia da semana, ao entardecer do Domingo. A morte de Jesus havia abalado a esperança, sinalizando o fim dos sonhos messiânicos, mas a presença do Ressuscitado, liberta e comunica a Paz, Shalom, como a plenitude dos bens salvíficos prometidos. Os sinais da Paixão, as mãos e o lado, identificam o Ressuscitado como o crucificado que doou a vida por amor. A certeza que Jesus, o Messias, ressuscitou, transforma a tristeza dos discípulos em alegria. O Espírito, dom do Ressuscitado, ilumina e faz compreender as obras de Jesus. Plenificados pelo sopro Divino, como em Genesis 2, os discípulos continuam a missão; como o Pai me enviou também eu vos envio.

Oito dias depois o Ressuscitado transmite a Paz aos discípulos reunidos e vai ao encontro de Tomé, transformando-o com sua luz. Então Tomé professa a fé, reconhecendo Jesus crucificado e exaltado como Senhor e Deus. Sua fé representa os que acreditam o Senhor por meio do Espírito, pois bem-aventurados são os que não viram e creram. A Ressurreição do Senhor é o grande Sinal que leva a compreender os demais e a assegurar a fé dos discípulos para que todos acreditem que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e tenham a vida em seu nome. A primeira leitura ressalta que fé em Cristo, vencedor da morte, move os discípulos a realizarem sinais e prodígios em favor do povo necessitado. O anuncio e a ação solidária testemunham a presença do Senhor, levando outros à adesão. Com o Salmo 118, bendizemos ao Pai pela vida de Cristo, a Pedra rejeitada que se tornou a Pedra principal. A segunda leitura, extraída do Livro do Apocalipse, mostra que os cristãos enfrentam tribulações por causa da Palavra e do testemunho de Jesus. Sua missão é sustentada pela força viva do Ressuscitado. Não temas, eu sou o primeiro e o último, aquele que vive.

Jesus ressuscitado nos leva a superar o medo e abrir-se à fé para nos tornar disponíveis, acolhendo o dom da paz, alegria e perdão. Quem acredita é bem-aventurado, pois participa da vida nova que Cristo comunica através de seu Espírito. O ser cristão supõe vida em Comunidade, só podemos dizer que acreditamos em Comunidade, pertencendo a uma Comunidade de fé, não de forma isolada, fechada ou longe da Comunidade como Tomé; e só em Comunidade que poderemos dizer, como ele: Meu Senhor e meu Deus!

Mas a fé, que foi transmitida pela Igreja, não nega a existência, os obstáculos, os desafios. E estes, longe de obscurecer a percepção da Páscoa, devem servir para fortalecer a convicção da ressurreição. Todavia, tal caminho não se faz no isolamento e sim na comunhão.

Em tempos de “ofertas religiosas de mercado”, os espetáculos e as manifestações milagreiras tendem a desenraizar a experiência de Deus. Valem as “curas”, os choros, os arrepios, as emoções movidas por supostas adivinhações ou “revelações” misteriosas. Ninguém olha para as próprias feridas e para as feridas alheias para reconhecer uma vida secreta que nelas habita. Os obstáculos e desafios não servem mais para fortalecer e serem abraçados como cruz do discipulado. São evitados. As doenças, a pobreza, e as injustiças não são confrontadas à luz da fé. Aceita-se a indiferença, sem qualquer perspectiva de solidariedade, de profetismo, de luta em vista de uma transformação.

Continuemos caminhando em Comunidade, mergulhados nesse tempo pascal, experimentando a vida do Ressuscitado em nossas vidas. O Senhor ressuscitado está vivo para sempre. A Comunidade reunida, a pessoa que preside, a Palavra proclamada e atualizada na vida dos fiéis, o pão e o vinho partilhados são sinais visíveis da presença do Senhor no meio de nós. Numa só voz bendizemos ao Senhor pela vitória de Cristo sobre a morte, o Pecado, a injustiça e a falta de Paz no mundo em que vivemos. Que Ele faça de nós testemunhas autênticas da Ressurreição.

Pe. Victor Silva Almeida Filho, vigário paroquial