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Deus vive na cidade

Artigo Pe. Nadai - Correio Popular 12/03/2013

26/03/2013

Vem de longe o questionamento sobre o modo de se fazer pastoral, hoje, nas grandes cidades. A questão se põe mais ou menos assim: a realidade urbana é muito diversificada e complexa. Na mesma cidade os contrastes são gritantes e saltam aos olhos: bairros residenciais de alto padrão, condomínios fechados, grandes e ricos edifícios, ao lado de bairros da periferia sem condições mínimas de infra-estrutura, onde a população vive em sub-habitações, favelas, cortiços ou ocupações, correndo riscos constantes.

Não basta, contudo, um olhar somente sobre o tecido urbano, sobre a geografia da cidade. É preciso aprofundar nosso olhar e perceber a diversidade de culturas. São muitas as culturas ou estilos de vida convivendo numa mesma cidade. Tudo isto se traduz no que se come, como se veste, no transporte que se usa, no lazer que se tem (ou não se tem), até mesmo na religião e no modo como se vive a fé, inclusive na Igreja Católica.

Na verdade, a cidade é um espaço de culturas que convivem mas também que se conflitam; bem como, um laboratório onde as culturas se fundem, por vezes uma predomina sobre a outra num processo de fragmentação até à extinção. Esta situação pode levar a uma crise de sentido, de valores e de referências culturais que sustentam a convivência humana e social.

Alguns cristãos da cidade fazem da Igreja um bem de consumo do qual são meros usuários. Para outros a frequência à Igreja dá sentido profundo às suas vidas. Para eles não existe a dicotomia Fé e Vida, mas sim a unidade Fé-Vida.

Esta nova realidade da Cidade desafia a Pastoral da Igreja, o seu modo de ser e de agir no mundo urbano. Com certeza a Igreja no meio da praça da cidade não é mais o principal referencial dos cidadãos; nem mesmo o relógio da torre é confiável. Quando não, está parado quase como um símbolo. Os sinos, há muito silenciados, cedem lugar a outros chamamentos.

Analisando os dados e informações da pesquisa realizada nas Paróquias Santo Afonso de Ligório (Campo Grande) e Divino Salvador (Cambuí) destaca-se a importância dada ao acolhimento das pessoas em suas necessidades: religiosa, espiritual, moral e afetiva. É recorrente a busca de ajuda para o alívio ou superação do sofrimento psíquico, espiritual e até da dor física. São frequentes as questões familiares, conjugais, etc. É compreensível. A cidade é o lugar da troca comercial, onde se compra e se vende tudo. A Igreja é um espaço de gratuidade. É o kairós, tempo favorável e propício, onde a pessoa é acolhida na integridade de seu ser, sem nenhuma cobrança, sem outro interesse além de que fique bem e saia melhor e mais confiante do que quando chegou. Evidentemente estou me referindo às Igrejas autênticas e genuinamente cristãs.

Segundo os Evangelhos, Jesus de Nazaré acolhia incondicionalmente as pessoas: Zaqueu, a Samaritana, o jovem rico, os gregos, a mulher que lava e unge seus pés, os doentes, as crianças, os pobres e os pecadores.

Os dados da pesquisa no seu conjunto questionam a pastoral tradicional na cidade e confirmam a necessidade de uma conversão pastoral. O modelo pastoral tradicional em paróquias não alcança, não abrange as necessidades, as urgências, os vazios pastorais de evangelização na cidade como um todo.

A tentativa da setorização geográfica simplesmente reproduz o sistema paroquial vigente.

Existem sim, felizmente, algumas iniciativas que devem ser mencionadas e valorizadas: as pastorais sociais (do menor, da criança, da mulher marginalizada, do negro, da terra, pastoral carcerária, pastoral operária), pastoral da saúde, pastoral das exéquias, os polos missionários nas igrejas do centro da cidade; sobretudo as Comunidades Eclesiais de Base nas periferias. Reconhecemos também certos movimentos de espiritualidade como equipes de Nossa Senhora, Casais com Cristo, Renovação Carismática Católica, com suas características próprias.

A grande novidade que a Igreja anuncia ao mundo é a vida nova em Cristo. Não se pode oferecer vida nova em Cristo sem o dinamismo de libertação integral, de humanização, de reconciliação e de inclusão social. Jesus cura o cego, respeita e valoriza a mulher samaritana, alimenta o povo faminto, cura os enfermos, liberta o os endemoninhados. Em seu Reino cabem todos: pecadores, leprosos, prostitutas e o bom ladrão. A opção preferencial pelos pobres é um marco definitivo da fisionomia da Igreja na cidade.  O serviço da caridade ”caracteriza de maneira decisiva, a vida cristã, o estilo eclesial e a programação pastoral”.

É preciso avançar em águas mais profundas diante dos graves desafios à Pastoral Urbana. É preciso ampliar e efetivar a presença profética e transformadora da Igreja, por meio de práticas e relações de fraternidade, de justiça, de defesa da vida de todos, especialmente dos fracos, indefesos e pobres.

Um grande questionamento ressoa aos nossos ouvidos: qual a imagem da Igreja que projetamos sobre a cidade? Que valores humanos, éticos repercutimos nos Meios de Comunicação Social? Faz-se necessário caminhar para uma Pastoral Urbana articulada; as iniciativas são muitas, mas ainda dispersas e tímidas.

Apesar de tudo reafirmamos: Deus vive na cidade!

 

Pe. José Arlindo de Nadai
Paróquia Divino Salvador

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